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Foto: Pedro Galdino www.flickr.com
(Licença Creative Commons) |
Uma vida de sucesso financeiro, luxo, viagens e sonhos
realizados na Itália. Foi o que Carla Diniz, 35 anos, idealizou após ser convidada
por um amigo para morar no país. O amigo italiano lhe mandou uma carta convite,
que garantiria sua estadia temporária na Europa. A cearense não pensou duas
vezes, cursava o segundo semestre de administração, trancou a faculdade,
abandonou o emprego, arrumou as malas e viajou.
Carla estava certa
que arrumaria logo um bom emprego na Itália para manter-se sem ajuda do amigo e
seguiu viajem, mesmo contra a vontade de sua família. Seu coração dizia que ela
tinha de fazer essa viajem, buscar seus objetivos e realizar seus sonhos. No ceará tudo parecia dificultoso, tinha um emprego simples, um salário
medíocre e pela idade, já estava em desespero por ainda morar
com a mãe.
Ao chegar à Itália,
tudo completamente diferente do Brasil, do Ceará, suas expectativas
aumentaram ainda mais, e a certeza de que tinha feito a coisa certa também. Os
dias se passavam, e os empregos não surgiam, Carla atribuía a falta de
oportunidade ao fato de não saber falar italiano, nem inglês. Seu amigo já lhe
dava a entender que não a queria mais na casa, e passou a trancar de cadeado os
armários da casa que tinham comida, a destrata-la e exigir que ela se virasse
de alguma forma para comprar sua alimentação.
Em um pais distante, sem família, amigos ninguém. A jovem começou
a se desesperar, para piorar sua situação o “amigo” disse que não dava mais
para mantê-la na casa. O italiano, havia conhecido Carla em uma de
suas viagens ao Brasil há cerca de cinco anos. Desde então, os dois não perderam contato e construíram uma amizade. A migrante ressalta que essas pessoas de fora são muito
frias, que ele não teve piedade dela em nenhum momento, que a situação fosse
contraria ela jamais o abandonaria aqui no Brasil como ele fez com ela.
Temperatura a menos 5 °c e Carla pelas ruas de Roma vagando, apenas com a roupa do corpo, pois havia pedido para que ele pelo menos guardasse suas
malas até ela achar algum lugar para ficar. Naquele momento as malas eram seus
únicos bens. Ao vagar pelas ruas, a cearense conta que chorava e imaginava que
nunca mais viria sua família de novo, já faziam quatro meses que ela estava
longe, por telefone ela não tinha coragem de dizer a família o sofrimento por o
qual passava. Não tinha dinheiro para voltar para casa, nas ruas Carla se
deparou com muitas Brasileiras prostitutas, que assim como ela, viajaram até lá
com outros planos. O preconceito era grande ao verem que era brasileira os
italianos humilhavam e falavam grosserias que mesmo desconhecendo o idioma, por
o tom da voz dava para saber que era ofensa, destaca.
Fome, frio, desespero, choro e muita vontade de voltar para
o Ceará. Carla então não viu outra alternativa, teve de prostituir-se para
conseguir comprar sua passagem de volta, a moça diz que tem vergonha de ter
feito isso, mais que lhe serviu de lição que aprendeu que o melhor lugar do
mundo para se viver é onde estão suas origens onde tenha pessoas com as quais
possa contar . E que aprendeu também que, se no Brasil um pais de terceiro
mundo seu conhecimento era pouco para um emprego de bom salário, em um país de
primeiro mundo a única coisa que ela poderia oferecer era seu corpo embora isso
tenha deixado feridas que não vão cicatrizar, encerra.
Reportagem: Taiamara Gomes